
A Terapia Ocupacional (TO) é uma profissão de nível superior na área da saúde que se dedica ao estudo, prevenção e tratamento de indivíduos com alterações cognitivas, afetivas, perceptivas e psicomotoras, sejam elas decorrentes de distúrbios genéticos, traumáticos ou doenças adquiridas. O principal objetivo da Terapia Ocupacional é proporcionar o máximo grau de autonomia e independência nas atividades diárias de um indivíduo, buscando a melhora de sua qualidade de vida e facilitando seu desempenho funcional em diversos ambientes, como trabalho, casa e lazer.
A profissão adota um olhar holístico e global do paciente, focando não apenas na reabilitação, mas também na prevenção. A intervenção do terapeuta ocupacional compreende a avaliação do paciente para identificar alterações em suas funções práticas, considerando sua faixa etária e seu desenvolvimento pessoal, familiar e social.
A Evolução da Prática em Terapia Ocupacional
Historicamente, a Terapia Ocupacional teve suas origens em um paradigma biomédico, onde o objetivo era manter os clientes ocupados em atividades de trabalho para promover saúde ou prevenir doenças, vendo a ocupação como uma forma de intervenção com valor de distração ou cura. Termos como “trabalho” e “ocupação” eram usados de forma indistinta.
No entanto, a profissão passou por uma evolução significativa, especialmente a partir do final do século passado, adotando o paradigma da ocupação. Hoje, a terapia ocupacional foca no engajamento do sujeito em ocupações significativas que fomentam sua saúde e bem-estar. A prática atual busca auxiliar indivíduos a viver em seus ambientes e a se engajar em atividades que lhes deem propósito, deixando de ser apenas curativa para focar em habilitar o cliente para o desempenho ocupacional.
A abordagem contemporânea é centrada no cliente, o que significa que o paciente participa ativamente na definição de suas metas, que são priorizadas no processo de avaliação, intervenção e resultados. O terapeuta age como um facilitador, utilizando seu conhecimento para remover barreiras e promover o desempenho do cliente nas ocupações escolhidas.
Áreas de Atuação e Intervenções Específicas
A Terapia Ocupacional atua em uma vasta gama de contextos e com diversas populações, incluindo:
- Processo de Envelhecimento (Gerontologia):
- É considerada imprescindível no trabalho com idosos, dado que a perda de fatores físicos, mentais e sociais faz parte do envelhecimento.
- Perdas Físicas: Lida com fragilidade óssea, perda de elasticidade do tecido conjuntivo, diminuição da força muscular e artrites. Utiliza atividades como exercícios físicos, caminhadas e dança para manutenção das funções corporais e melhora das funções musculares e articulares. A prevenção de quedas é um problema sério no envelhecimento, e o TO atua tanto na prevenção quanto na reabilitação, inclusive auxiliando no uso de equipamentos de mobilidade como cadeiras de roda, bengalas e andadores.
- Perdas Cognitivas: Aborda limitações como diminuição da atenção e perda progressiva da memória através de estimulação cognitiva, frequentemente realizada em oficinas de memória, dança ou artesanato.
- Instabilidade Emocional e Perdas Sociais: Trabalha com o resgate da autoconfiança, tratamento de depressão, e apoio diante de perdas de laços familiares, amigos e capacidade de trabalho. Um recurso comum é a organização da rotina do indivíduo, buscando atividades de interesse e participação.
- As atividades diárias e práticas (comer, vestir, higiene pessoal, fazer compras, cozinhar), sociais (passeios, visitas), culturais (atividades literárias, audições musicais) e artesanais (pintura, cerâmica) são utilizadas para promover autonomia, independência, valorização e bem-estar.
- Contextos Hospitalares (Pediatria):
- Na enfermaria pediátrica, o terapeuta ocupacional auxilia pacientes e seus acompanhantes a lidar com o adoecimento e a hospitalização, focando na qualidade de vida.
- Avaliação: Realizada por observação clínica, entrevista com os pais, leitura de prontuários e reuniões de equipe, para identificar o perfil do paciente, seus interesses, história de vida, impactos da doença nas ocupações, e necessidades de apoio. Com as mães acompanhantes, a escuta e a observação são cruciais.
- Objetivos: Prevenir atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor, prescrever tecnologia assistiva, auxiliar no empoderamento e aceitação do tratamento, resgatar e ressignificar o cotidiano, facilitar a participação social, promover a saúde e independência. Para mães, os objetivos incluem estratégias de enfrentamento, acolhimento, e capacitação nos cuidados do filho.
- Recursos de Intervenção: Utiliza-se de brinquedos (quebra-cabeças, dominó, jogos de memória), materiais gráficos e artesanais, fantoches, e recursos midiáticos e eletrônicos. A tecnologia assistiva é empregada para funcionalidade e comunicação, como talheres engrossados, cadeiras de rodas e pranchas de comunicação. Durante a pandemia de COVID-19, houve adaptação para materiais descartáveis e teleatendimento/telemonitoramento.
- Locais e Modalidades: Intervenções são realizadas no leito do paciente, em espaços da enfermaria, salas de recreação, áreas comuns e brinquedotecas. Podem ser atendimentos diários ou semanais, individuais ou em grupo. A assistência às mães acompanhantes é uma forma de humanização do cuidado.
- Saúde Mental:
- É uma das áreas de especialização do terapeuta ocupacional. A atuação em saúde mental tem evoluído de um modelo hospitalocêntrico para um modelo de reabilitação psicossocial, com foco na redução de leitos psiquiátricos e expansão de serviços substitutivos no território, como Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
- O objetivo é promover o resgate da cidadania, a participação efetiva de usuários e famílias, a organização da demanda e da rede de cuidados.
- As intervenções em saúde mental buscam a ampliação do cuidado e o resgate dos direitos de cidadania, utilizando a atividade como ferramenta para a emancipação do sujeito e para tornar as experiências individuais mais criativas.
- As redes sociais são vistas como relevantes para a inserção de usuários, promovendo trocas sociais e facilitando alternativas de inserção. O Projeto Terapêutico Singular é uma estratégia de cuidado multidisciplinar focada nas necessidades e contexto social do indivíduo, buscando a autonomia.
Avaliação em Terapia Ocupacional
A avaliação é um processo contínuo e fundamental na Terapia Ocupacional, desde as etapas iniciais até o desfecho da intervenção. Ela auxilia na identificação de necessidades, definição de objetivos terapêuticos e mensuração de resultados.
As avaliações na prática baseada na ocupação começam com a identificação do desempenho ou engajamento do cliente nas ocupações, buscando compreender o significado que o cliente atribui a elas. Ferramentas como a Medida Canadense de Desempenho Ocupacional (COPM), o Inventário de Avaliação Pediátrica de Incapacidade (PEDI), e o Perfil Sensorial são exemplos de instrumentos padronizados. Embora haja um número crescente de instrumentos de avaliação específicos da Terapia Ocupacional adaptados para o uso no Brasil, a maioria é de origem estrangeira, e há a necessidade de desenvolver mais instrumentos que considerem a realidade social e cultural brasileira.
A Profissão no Brasil: História e Desafios
Os primeiros cursos técnicos de Terapia Ocupacional no Brasil surgiram na década de 1950, no Rio de Janeiro (Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro – ERRJ, 1956) e São Paulo (Instituto de Reabilitação – IR do HC-USP, 1958). A profissão foi regulamentada no Brasil em 1969.
A partir da década de 1970, houve uma expansão dos cursos de nível superior, impulsionada pela regulamentação e pela demanda por uma formação mais universitária. Muitos dos primeiros docentes eram recém-formados ou profissionais que haviam estudado no exterior, enfrentando desafios como a falta de bibliografia específica em português e a necessidade de “inventar” a profissão enquanto a construíam.
Atualmente, a Terapia Ocupacional busca consolidar uma prática baseada em evidências científicas e uma compreensão integral do sujeito, incluindo fatores emocionais, sociais e espirituais. A profissão tem expandido sua atuação para contextos comunitários, educacionais e corporativos, com maior atenção à diversidade e a grupos marginalizados. A contínua atualização e a ampliação do repertório do terapeuta ocupacional são essenciais para uma prática de qualidade que realmente transforme a vida das pessoas.
Artigo criado com ajuda de IA e com a curadoria da FundamenTO.
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